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Dia da Amazônia e o impacto do consumo de carne na floresta


Em meio a recordes de queimadas e desmatamento, dia criado para conscientizar sobre a Amazônia pode ser uma oportunidade para refletir sobre os impactos do que escolhemos na nossa alimentação

O dia 5 de setembro marca o Dia da Amazônia, data instituída em 2007 com o objetivo de conscientizar sobre a importância da floresta. A data foi escolhida por ser a data da criação da província do Amazonas, em 1850, pelo Dom Pedro lI.

No entanto, não temos muito o que comemorar. Há quase um mês, no dia 10 de agosto, marcado como o “dia do fogo”, produtores rurais da região Norte do país se articularam para incendiar em conjunto áreas da maior floresta tropical do mundo, com o objetivo de chamar a atenção das autoridades e conseguir apoio do governo. A ação aumentou significativamente as queimadas, que já seguiam em níveis altíssimos e colocou o país nos holofotes internacionais desencadeando  uma grande crise diplomática.

Em junho, houve um aumento de 88% no desmatamento da Amazônia quando comparado com o mesmo mês de 2018. A área desmatada atingiu 920 km2 de floresta. Já em julho, o desmatamento foi 278% maior do que o mesmo período do ano passado, registrando perdas de 2.254,9 km² contra 596,6 km². Até o final do ano, especialistas esperam um aumento total de 45% no desmatamento ilegal em relação ao ano anterior. Os dados são do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O que isso tem a ver com o consumo de carne? A criação de gado é um dos principais motivos do desmatamento da floresta. 

Maior exportador mundial de carne bovina, o Brasil bateu recordes em 2018, ao atingir o número de 1,64 milhão de toneladas de carne bovina exportada para mercados como China, Egito e União Europeia. Os dados são da Associação das Indústrias de Exportação de Carne no Brasil.

O crescimento da demanda fez com que o país chegasse ao índice de desmatamento de 17%, segundo dados do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Se este número atingir os 20%,  muitos cientistas afirmam que a tendência é que os danos sejam irreversíveis, e a floresta tropical se torne uma savana no longo prazo. De acordo com o relatório da Procuradoria do Meio Ambiente do Ministério Público Federal, o desmatamento da região representava apenas 1% na década de 1970. No entanto, a destruição da floresta acompanhou a evolução do rebanho bovino na Amazônia, que passou de 47 milhões de animais em 2000 para cerca de 85 milhões atualmente. Hoje, quase 40% das 215 milhões de cabeça de gado do país pastam em áreas amazônicas.

As queimadas crescentes após o dia do fogo afetaram principalmente as reservas florestais das cidades de Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu, que tem o maior rebanho bovino do país, com 2,2 milhões de cabeças. A gigante JBS já foi flagrada comprando gado de fornecedores multados por desmatamento ilegal na região.

Segundo relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 80% do desflorestamento ocorrido no Brasil entre 1990 a 2005 foram associados à conversão de terras em terrenos de pastoreio. A criação de frango e peixe também impacta a floresta, uma vez que os animais são alimentados com soja, muitas vezes plantadas em áreas desflorestadas. Apesar do alto impacto, a atividade contribuiu com apenas 5,4% do PIB do país, entre 2010 e 2013. 

O relatório da campanha “Carne ao molho madeira”, publicado pelo Greenpeace em 2015, também traz um panorama dos impactos da pecuária extensiva no país. A campanha avaliou e fez um ranking dos maiores supermercados do Brasil, incluindo Grupo Pão de Açúcar, Wallmart e Carrefour, com base em três critérios: se a empresa tem uma política de aquisição de carne bovina livre de desmatamento, a qualidade e o rigor dessas políticas e a transparência dos supermercados com seus consumidores. Como resultado, nenhum deles alcançou o patamar verde, que corresponde às empresas que atingiram percentual de 70 a 100% em todas as áreas-chave que integram o ranking. Isso mostra que elas não conseguem garantir que o produto exposto em suas prateleiras é ambientalmente limpo.

De acordo com dados levantados pelo Repórter Brasil, as plantações de soja, utilizadas em grande parte para alimentar o gado, também contribuem para a destruição da floresta. Além da carne, o Brasil se também se tornou o maior exportador de soja no mundo, principalmente para a China, que não se manifestou oficialmente sobre as queimadas. 

Foram 83,3 milhões de toneladas em 2018, 22,2% a mais que em 2017, segundo o Ministério da Economia. Em 2018, o então ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, divulgou estudo revelando que o grão ocupa ilegalmente 47,3 mil hectares de floresta desmatada da Amazônia – aumento de 27,5% na comparação com o registrado na safra anterior (37,2 mil hectares). 

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo. Com sete milhões de quilômetros quadrados, sendo cinco milhões em meio de florestas, o bioma tem um papel fundamental na ação contra os danos do aquecimento global e conservação dos recursos hídricos. Enquanto a estratégia de governo é lançar uma campanha publicitária, nós podemos aproveitar este dia para refletir sobre o impacto do nosso consumo no planeta e repensar sobre algumas escolhas que temos o poder de fazer, especialmente no que diz respeito ao que colocamos ou deixamos de colocar no nosso prato.

Em meio a esse cenário, a forma mais eficaz e prática de protesto que efetivamente pode desencadear mudanças é eliminar a carne e os demais produtos de origem animal da alimentação. Por isso, a Animal Equality Brasil, com a campanha #setembrosemcarne, está aqui para te ajudar nesse processo. Ao longo do mês, postaremos aqui e no LoveVeg diversas dicas, receitas, técnicas e cuidados que podemos ter ao escolher viver um estilo de vida mais compassivo. Você pode começar agora. Pelas florestas, pelo clima, pelos animais e pelas pessoas, considere essa mudança. 

Guilherme Petro

Formado em Gastronomia pelo Mackenzie, já passou por diversas áreas dentro e fora dos restaurantes. Foi cozinheiro, garçom e fez gestão até de cozinhas universitárias. É gastrólogo, sommelier, bartender, assessor e fotógrafo de restaurantes, além de técnico em informática e de fazer ponto cruz, entre muitas coisas mais. Ele foi um dos jovens formado em Jornalismo pelo projeto Énois, e é co-autor e hoje coordenador do Prato Firmeza — Guia Gastronômico das Quebradas.



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