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O que nossos investigadores secretos encontraram não é uma exceção. Infelizmente, o abate clandestino é muito comum e ocorre em várias cidades do Brasil. A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) atualmente não possui uma estimativa sobre o número de abates clandestinos no Brasil, mas já estimou que atingia 50% em algumas regiões do país devido à falta de fiscalização. Especialistas do setor também apontam para uma clandestinidade entre 30% e 50%. Desta forma, é possível que metade da carne bovina consumida pelos brasileiros venha de matadouros ilegais, como este que investigamos. Isso representa um enorme risco para a saúde do consumidor, que pode contrair inúmeras doenças ao ingerir esse tipo de carne. Já para os animais, representa uma morte cruel e dolorosa, como pode ser visto pelas imagens que registramos.
Nossos investigadores documentaram animais sendo golpeados por marretadas na cabeça. Alguns animais morreram em decorrência dessas marretadas, enquanto outros não perderam a consciência. Mesmo após vários dolorosos golpes, eles permaneciam cientes da proximidade da morte, enquanto era possível ver o crânio do animal sendo afundado após cada golpe. Os animais que sobreviviam a essa extrema violência, agonizavam por um longo período, até serem abatidos através de um corte no pescoço.
Alguns animais tinham seus corpos perfurados com um arpão - objeto pontiagudo - enquanto ainda estavam vivos. A justificativa dada pelos funcionários para usar essa técnica cruel era que os animais sentiam tanta dor que acabam desistindo de lutar pela vida. Eles ficavam acuados e, assim, era mais fácil matá-los.
Sem confirmar a morte do animal, os funcionários prendiam um cabo de aço ao redor de seu pescoço, para que o seu corpo fosse erguido e arrastado para o local onde sua cabeça, pele e patas fossem retiradas. Os próprios funcionários relataram aos investigadores que era comum os bois "acordarem" enquanto estavam sendo erguidos pelo pescoço. Desta forma, esses animais acabavam morrendo em decorrência do enforcamento.
Além dos problemas relacionados ao sofrimento animal, as condições higiênico-sanitárias eram precárias, com muitas fezes no chão, órgãos e pedaços de carne acumulados em um canto da sala, o que provocava um odor muito desagradável. A carne ficava cheia de sujidades, como fezes, terra e pedaços de cimento que se desprendiam do chão. Assim, os funcionários "lavavam" a carne com água de um córrego da região, cuja qualidade era duvidosa. Desta forma, a água tirava as sujeiras visíveis a olho nu, mas se tornava uma fonte de contaminação de bactérias e outros patógenos.
O principal estudo científico que serviu de base para estimar o tamanho do mercado de abate clandestino da carne bovina foi o de Mathias JA. Clandestinidade na produção de carne bovina no Brasil. Revista de Política Agrícola 2008; 17(1):63–73. Também utilizamos um dado que a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) já disponibilizou.
Existe uma grande dificuldade em estimar o numero de animais abatidos em matadouros clandestinos, justamente pela natureza ilegal da operação. A variação entre os percentuais encontrados em cada estudo decorre principalmente das diferenças entre as metodologias utilizadas. Existem estudos mais atuais, porém, mesmo nestes casos, dependendo da metodologia, especialistas advertem que o tamanho total do mercado clandestino pode estar sendo subestimado.
Chamamos atenção para o fato de haver poucos estudos sobre o tema. A dificuldade de obter dados e os limites metodológicos para estimar o tamanho real deste mercado aumenta o tamanho da gravidade do problema, pois o mantém na invisibilidade permitindo a perpetuação desse grave crime contra a saúde pública, os animais, o Estado e o consumidor brasileiro.
Algumas pesquisas apontam um percentual bastante reduzido do tamanho do mercado de abate clandestino no Brasil. Por exemplo, a pesquisa feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da USP informa que o percentual de carne clandestina no mercado brasileiro corresponde à faixa de 3,83% a 14,1% do total abatido. O próprio CEPEA reconhece que existem limitações para estimar o tamanho deste mercado, afirmando que: "Os pesquisadores acreditam que as limitações de informações para esta estimativa conferem algum grau de subestimação. Um exemplo é a falta de dados mais atualizados sobre o consumo per capita de carne bovina. Uma restrição à estimativa das proporções para os estados é a falta de informações sobre a magnitude do comércio interestadual de carne bovina".
Além da metodologia, a espécie do animal e a região de produção também podem influenciar no resultado da pesquisa. De acordo com o Associação Brasileira dos Criadores de Ovinos (Arco), 92% dos abates feitos no Brasil ocorrem de maneira clandestina. O presidente da associação estima que no Estado do Rio Grande do Sul, especificamente, os abates ilegais representam 70% da carne de ovelhas.
A Animal Equality Brasil adotou os números de Matias J.A pois apesar de ser de 2008 ainda é considerado o estudo mais completo sobre o tema, pois ele faz uma revisão dos outros estudos sobre o tema, bem como as metodologias utilizadas em cada um.