Crise climática: o que nós temos a ver com isso
No dia da Greve Global Pelo Clima, entenda o que são as mudanças climáticas e como ela causa impactos diretos na nossa vida e na do planeta
Neste dia 20 de setembro, pessoas do mundo todo estão aderindo à Greve Global Pelo Clima, com o objetivo de dar visibilidade à situação de colapso ambiental que ocorre em diversas partes do planeta e exigir que autoridades tomem medidas imediatas contra o aquecimento global e a degradação do meio ambiente.
As manifestações, em mais de 150 países, ocorrem em um momento em que a atenção mundial está voltada para o Brasil devido às queimadas na Amazônia, e também um dia antes de começar a Cúpula pelo Clima, da Organização das Nações Unidas (ONU), que deverá ocorrer de 21 a 23 de setembro, em Nova York. Ao todo, 63 países discursarão na cúpula, e haverá uma conversa direta sobre as mudanças climáticas entre os chefes de Estado.
A greve foi inspirada no movimento Fridays For Future (Sextas-feiras Pelo Futuro), criado pela estudante sueca Greta Thunberg, de 16 anos. Em agosto de 2018, Greta começou a faltar às aulas toda sexta-feira para protestar diante do Parlamento sueco sobre a necessidade de ação imediata para combater as mudanças climáticas. No início, ela protestava sozinha, mas, aos poucos, outros colegas foram aderindo ao movimento e, hoje, ele já é reconhecido no mundo inteiro.
Inspirados em Greta, estudantes brasileiros criaram o Fridays For Future Brasil (Movimento da Juventude pelo Clima). O objetivo do movimento é conversar sobre a emergência climática e sobre como podemos transformar as formas de produção e consumo estabelecidas, que comprometem o nosso presente e ameaçam o futuro de todos.
Por que se preocupar?
Um artigo publicado recentemente pela revista Nature aponta evidências de que a velocidade e a extensão do atual aquecimento global é mais grave do que qualquer evento similar nos últimos 2 mil anos. E, por mais que se trate de um conceito de escala global, os efeitos das mudanças climáticas podem ser vistos e sentidos na pele por qualquer um.
No último dia 12, por exemplo, São Paulo teve o dia mais quente de setembro desde que as temperaturas passar a ser medidas pelo Instituto Nacional de Meteorologia, em 1943. Foram 35,9° em pleno inverno. Segundo pesquisadores, esses recordes de altas temperaturas tendem a ser cada vez mais comuns.
De acordo com o relatório Estado do Clima, divulgado pela Sociedade Americana de Meteorologia, em 2018 a emissão de gases de efeito estufa atingiu o índice mais alto da história. Além disso, os quatro anos entre 2015 e 2018 foram os mais quentes em mais de um século de medições.
Na Islândia, a geleira Okjökull foi a primeira do país a perder seu status, no ano de 2014, porque derreteu. Em 1901, a Ok, como é chamada hoje, era uma massa compacta de gelo ocupando cerca de 38 km², mas, em 1º de agosto de 2019, tinha menos de 1 km². Uma placa colocada no local por um grupo de pesquisadores como forma de alerta afirma que nos próximos 200 anos todas as nossas geleiras devem seguir o mesmo caminho. A Groenlândia também está batendo recordes de derretimento e no Alasca as geleiras estão derretendo em uma velocidade cem vezes maior do que se imaginava.
Como consequência direta, o nível dos oceanos sobe e isso pode não só deixar populações inteiras desabrigadas como destruir a fauna e a flora de uma região. Além disso, com a temperatura média cada vez maior, se tornaria inviável a prática de diversas atividades agrícolas. O portal Business Insider fez um vídeo para ilustrar como a seria o nosso planeta se todo o gelo fosse derretido.
Principais causas
O dióxido de carbono (CO2) é responsável por mais de 80% da poluição que gera o aquecimento global e aproximadamente 97% do CO2 emitido pelos países industrializados do ocidente vem da queima de combustíveis fósseis, como carvão, óleo e gás, usados para produzir energia. O desmatamento, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), é a segunda maior causa das mudanças climáticas, e as emissões geradas pela destruição da cobertura vegetal são maiores que as de todo o setor de transporte.
De acordo com um relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgado em agosto, cerca de 23% das emissões globais de gases de efeito estufa causadas pelo homem provém da agropecuária, da silvicultura e de outros usos da terra. A mudança no uso da terra, como a conversão de terras em pasto, impulsiona essas emissões.
Na Amazônia, que bateu recorde de áreas queimadas da década, os municípios mais desmatados foram aqueles que registraram maior número de focos de incêndio. Estima-se que mais de 80% do desmatamento da Amazônia está ligado à conversão de terras em terrenos de pasto. De acordo com relatório lançado pela FAO em 2016, o rebanho bovino brasileiro ocupa atualmente uma área maior que 200 milhões de hectares, número que corresponde a mais de 20% do território brasileiro.
Uma análise publicada em 2018 do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) mostra que em 2016 a agropecuária foi responsável por aproximadamente 22% das emissões brutas e 30% das emissões líquidas de gases de efeito estufa do Brasil, totalizando 499,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente (CO2e) no ano. Esse valor representa um aumento de 165% comparado a 1970. Hoje, o país é o terceiro maior emissor global por agropecuária, atrás apenas de China e Índia.
Como reverter esse processo?
Existem diversas maneiras, em diferentes escalas, de reduzir as emissões dos gases de efeito estufa e os efeitos das mudanças climáticas. O principal objetivo global, amplamente discutido em encontros de líderes de Estado, é a limitação do uso de combustíveis fósseis. Segundo a ONU, devemos reduzir drasticamente a emissão do CO2 e de outros gases até 2050, para talvez conseguirmos impedir que o aumento, inevitável, da temperatura global ultrapasse 1,5°C. Mais especificamente, o uso de carvão e petróleo deve ser substituído por fontes renováveis e sustentáveis de energia, como a solar e a eólica.
A diminuição do desmatamento e investimento no reflorestamento e na conservação de áreas naturais também são fundamentais. Essa ação contribuiria com até 30% da capacidade de amenizar as mudanças no clima. Para isso, são necessárias políticas nacionais e internacionais de proteção, fiscalização e controle.
A pressão da sociedade civil é capaz de exercer uma grande força na contribuição para a diminuição do aquecimento global, por isso é importante se manter informado sobre discussões políticas internacionais, nacionais e locais relacionadas com o assunto. Apesar de grandes, essas metas podem ser tangíveis em escalas menores e também no campo individual.
Pequenas ações no dia a dia podem ter um grande impacto, como a escolha de formas alternativas e públicas de transporte em detrimento ao uso de carros, que ainda hoje em sua maioria utilizam combustíveis fósseis, ou o consumo consciente de energia e produtos. Evitar desperdícios, produtos descartáveis e diminuir a produção de lixo, optando, em vez disso, por produtos originados de ciclos sustentáveis de produção e comercialização, pode trazer muitos benefícios em âmbito local.
Mudanças individuais que podem levar a mudança de comportamento de uma sociedade inteira, e isso também passa pela alimentação. Ao diminuir o consumo de carne e outros produtos de origem animal e optar por uma maior inclusão de vegetais no prato, é possível influenciar e provocar mudanças diretas na atuação do mercado da agropecuária, que desmata, consome energia, libera gases e resíduos.
Que tal dar o primeiro passo, considerando reduzir a quantidade de produtos de origem animal do seu prato, pelos animais, pelas pessoas e pelo nosso clima?
A Animal Equality te ajuda: conheça a campanha Setembro Sem Carne.
Guilherme Petro
Formado em Gastronomia pelo Mackenzie, já passou por diversas áreas dentro e fora dos restaurantes. Foi cozinheiro, garçom e fez gestão até de cozinhas universitárias. É gastrólogo, sommelier, bartender, assessor e fotógrafo de restaurantes, além de técnico em informática e de fazer ponto cruz, entre muitas coisas mais. Ele foi um dos jovens formado em Jornalismo pelo projeto Énois, e é co-autor e hoje coordenador do Prato Firmeza — Guia Gastronômico das Quebradas.