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Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, entrevistamos nossa Diretora Executiva, Carla Lettieri


No dia Internacional da Mulher queremos inspirar outras mulheres a seguir carreira em organizações de proteção animal. Por esse motivo, pedimos para a nossa Diretora Executiva, Carla Lettieri, compartilhar um pouco da sua trajetória profissional com outras mulheres que amam os animais. Carla está à frente da Animal Equality Brasil desde 2020 e sua liderança não tem sido destaque apenas na organização. Carla foi a liderança feminina que esteve na linha de frente contra a aprovação da lei do Autocontrole e foi reconhecida pela sua coragem ao debater com senadores e representantes do setor agropecuário. Desde sua chegada na Animal Equality, a organização começou a atuar em projetos de advocacy e com sua influência, Carla conseguiu o apoio de Deputados para que apresentassem 3 projetos de lei que visam proteger os animais das práticas abusivas da indústria. Outro progresso que a organização conseguiu sob a sua liderança foi o compromisso de 30 empresas que se comprometeram a acabar com as práticas abusivas em sua cadeia de produção, impactando mais de 21 milhões de animais.  Nesse período, a Animal Equality também lançou três investigações secretas que tiveram ampla cobertura da mídia no Brasil, e até mesmo em outros países. Carla foi convidada por importantes jornais para dar maiores esclarecimentos sobre os fatos documentados nas investigações. Para conhecer mais a nossa Diretora Executiva, leia  a entrevista completa.

Carla, nos conte um pouco sobre sua trajetória profissional.

Depois que me formei no mestrado, eu comecei minha carreira como professora de relações internacionais. Meu sonho sempre foi fazer parte do time de pessoas que lutam contra as injustiças, fazendo parte do terceiro setor. Mas naquela época, havia pouquíssimas organizações no Brasil.Depois de quase cinco anos atuando como professora, eu tive a oportunidade de trabalhar na área de projetos sociais e ambientais de uma grande empresa de energia no Rio e isso me deu a experiência necessária para ingressar em uma grande organização não-governamental da área da saúde, onde atuei por quase 15 anos. Depois de muito aprendizado e amigos feitos ao longo da minha carreira, ingressei na Animal Equality em 2020. Trabalhar com a defesa e proteção animal é a realização de um sonho, pois sempre amei os animais, mas sinceramente nunca achei que fosse possível para mim trabalhar nessa causa, pois não tenho uma formação técnica, como Veterinária ou Zootecnia. Eu tenho o desejo sincero de usar tudo o que aprendi ao longo de quase 20 anos de carreira para aumentar o impacto das nossas ações e contribuir para o crescimento da consciência de que os animais merecem ser respeitados e tenho a sorte de trabalhar com um time incrível.. 

Quais foram os maiores desafios da sua carreira? Você sentiu algum desafio específico por ser mulher?

Nós vivemos em um país machista e é praticamente impossível encontrar uma mulher com muitos anos  de experiência profissional  que nunca tenha enfrentado nenhum tipo de desafio neste sentido. Eu vivi muitos desafios e posso dizer que não foi fácil. O que me ajudou a lidar com eles foi o fato de nunca ter me deixado definir pela opinião de ninguém, ou por atos ou falas discriminatórias. Eu aprendi a apreciar o meu valor, sem precisar de validação de ninguém. 

Como você vê a aceitação do mercado com a entrada de mulheres em cargos de liderança? Você sente alguma diferença entre o mercado em geral e as organizações que trabalham com proteção animal?

Ainda existe muita resistência. Uma pesquisa do GIFE com organizações do terceiro setor e de investimento social privado mostra que nos cargos de presidente e vice-presidente as mulheres são a minoria.  Elas começam a se destacar nos cargos de diretoria. Mas eu vejo que isso está mudando. No entanto, no que diz respeito à causa animal, quase 100% das grandes organizações de proteção animal de produção são lideradas por mulheres. Na Animal Equality Brasil, 70% da equipe é composta por mulheres e todas são incríveis. Eu tenho uma grande admiração e respeito por cada uma delas, pois sei o desafio que enfrentam todos os dias.

Você tem conselhos específicos para mulheres que estão começando agora no terceiro setor e na proteção animal?

Eu diria para as jovens que sonham em trabalhar no terceiro setor que apesar de ser difícil ingressar e atuar nessa área, elas devem manter o foco nos resultados e em adquirir conhecimento que as preparem para posições de liderança. Ser mulher é sim um fator dificultador no nosso país, mas os desafios de liderança são os mesmos para todos. E quando estamos realmente preparadas para superar esses desafios, as portas se abrem, seja onde você está ou em outra organização. A fórmula de estudar, trabalhar e ajudar a todos que puder ao longo da carreira é infalível. Ela vai levar a alcançar todos os seus objetivos. 

O setor do agronegócio é um setor majoritariamente masculino, como é debater com esse setor, sendo uma mulher?

Eu acredito que é meu dever tratar a todas as pessoas com quem interajo, inclusive as que discordam de mim, com respeito e gentileza. Entretanto, se eu sinto que estou sendo desrespeitada por ser mulher, eu não me deixo intimidar. Não foi fácil, mas eu desenvolvi a capacidade de colocar limites claramente e não aceito que ninguém me diminua, por ser mulher. Mas só consegui chegar até esse ponto porque trabalhei muito o meu mindset para enxergar o meu valor.

Você sente medo ou tem excesso de cautela por ser mulher e lutar contra um sistema reconhecido por casos de violência contra pessoas e animais?

Eu não sinto medo por ser mulher, mas sei que estamos lutando contra um setor muito poderoso e quando há muito dinheiro envolvido, as pessoas se tornam capazes de fazer coisas ruins. Mas procuro não perder o foco de fazer bem o meu trabalho, com profissionalismo, responsabilidade e respeito, confiando que os resultados serão os melhores possíveis. Eu não divago sobre o que eu não posso controlar. 

Você tem uma vasta experiência no terceiro setor, mas quais são os desafios específicos de organizações de proteção animal, principalmente sendo uma mulher em um alto cargo de liderança? 

Penso que os desafios que vivo atualmente são intrínsecos à nossa atividade. Estar à frente de uma organização que desafia a indústria de alimentos e questiona as práticas cruéis usadas com os animais criados para alimentação é um desafio nesse sentido. É um desafio para mim e para todas as outras mulheres que trabalham nas organizações de proteção animal, principalmente as investigadoras, que vão a campo para expor essas práticas. Mas procuro pautar minhas ações pelo amor pelos animais e não pelo medo dos desafios. O amor me dá forças para continuar. 

Na Animal Equality a maioria dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, você vê alguma diferença na cultura e na gestão trabalhando  em uma organização na qual as mulheres estão presentes na maioria dos cargos de liderança? 

Tenho a sorte de estar à frente da Animal Equality, uma organização com um amplo histórico de vitórias pelos animais e com muitas mulheres inspiradoras em cargos de liderança, incluindo nossa Presidente, Sharon Nuñes, e nossa Vice-Presidenta, Dulce Ramirez. Costumo dizer que me apoio no ombro de gigantes. Penso que isso se deve principalmente ao fato de termos uma cultura totalmente baseada em resultados e apoiada nos traços que valorizamos em nossos profissionais, como trabalho em equipe, criatividade, mentalidade de dono, entre outros. Então se uma pessoa é excelente profissional, ela tem espaço para crescer. Além disso, existe muita compreensão em relação aos desafios que cada um pode vivenciar em função da nossa atividade e a necessidade de balancear nossa vida profissional e pessoal.  Isso é particularmente importante para as mulheres que têm filhos e é muito importante para mim. 

Você teve a oportunidade de estudar um tempo fora do país, nesta experiência você sentiu uma diferença cultural no modo como você foi tratada dentro da instituição de ensino? E na sociedade de um modo geral?

Minha primeira experiência de estudo fora do Brasil foi na Suécia, um país que é um exemplo de avanços na pauta feminista. Foi lá que eu entendi que eu também era extremamente machista, que tinha muitas ideias equivocadas sobre o que é ser mulher, vindas da minha educação e tive a oportunidade de questioná-las e reaprender a interpretar minha relação com o mundo. Na Suécia eu senti o que é viver em uma sociedade onde todos são respeitosos e tratados com alta consideração. Isso é claro, inclui o tratamento que recebi na Universidade de Uppsala, instituição na qual estudei. As instituições são sempre um reflexo da sociedade. 

Apesar de vivermos em uma sociedade com setores ainda extremamente machistas, as mulheres são protagonistas em áreas como a proteção animal e ambiental. Você enxerga as mulheres, de uma maneira geral, com essa habilidade natural de ter empatia e um senso de proteção?

Eu acredito que a empatia e senso de proteção são habilidades cognitivas que tradicionalmente vêm sendo associadas às mulheres e negadas aos homens. Uma habilidade cognitiva não é algo programado biologicamente, como uma emoção, mas que pode ser aprendida por todos os seres humanos. No passado, os homens eram ensinados para trabalhar e para ir à guerra, por isso desde cedo brincavam com ferramentas e com armas. Nós sabemos onde essa busca desenfreada pelo poder está nos levando e isso não é bom. As mulheres eram educadas, ou melhor dizendo, programadas, para cuidar da família e do lar, por isso as brincadeiras infantis tinham elementos desse universo. Hoje temos mais clareza de que precisamos ensinar essas habilidades para homens e mulheres, pois depende do destino dos animais e do nosso futuro como Humanidade. 

Agradecemos a Carla por nos inspirar com sua jornada!

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