Argentina se torna o primeiro país do mundo a proibir a criação de salmão
Os legisladores argentinos aprovaram, por unanimidade, o projeto de lei e a decisão é a primeira do gênero no mundo.
A província argentina de Tierra del Fuego aprovou um projeto de lei que proíbe a criação de salmão, prática que vem sendo criticada por preocupações com a sustentabilidade.
A decisão foi tomada após a proposta de iniciar a criação de salmão no Canal de Beagle, na Tierra del Fuego, única área da Argentina adequada para isso. Essa decisão torna a Argentina o primeiro país do mundo a banir esse tipo de criação.
O que esta lei histórica contempla?
A nova lei proíbe “todas as atividades de cultivo e produção de salmonídeos” nos mares e lagos da Tierra del Fuego para “garantir a proteção e preservação dos recursos naturais, recursos genéticos e ecossistemas lacustres e marinhos”.
Da mesma forma, implica sanções como fechamento de estabelecimentos, confisco de instalações removíveis, carne de salmão e multas.
Crueldade e abuso com os animais
A maior parte dos peixes consumidos são criados em pisciculturas que são fazendas aquáticas no oceano ou em lagos e tanques. Essas fazendas usam de práticas muito cruéis para criar seus peixes. Os peixes podem ficar até dois anos com outras centenas de peixes em tanques ou tanque-rede com altos níveis de amônia e nitratos devido às concentrações de urina, fezes, resíduos químicos e antibióticos.
Também é comum que esses espaços levem a surtos de infecções ou parasitas que se alimentam de suas guelras, órgãos internos e seu sangue e, por isso, as taxas de mortalidade são muito altas. As práticas de abate também são muito cruéis e incluem espancamentos, eletrocussão, morte por congelamento, decapitação, desmembramento e asfixia.
Nossa investigação em um matadouro de salmão na Escócia, a terceira maior produtora mundial de carne de salmão em todo o mundo, revelou graves problemas de bem-estar animal, incluindo um número significativo de peixes que têm suas guelras cortadas sem atordoamento prévio, ou seja, os animais estavam conscientes e sentindo dor durante a morte.
Atualmente, os peixes são os animais menos protegidos pelas legislações dos diversos países,, uma vez que não recebem nem mesmo as proteções mais básicas, como ser atordoado antes de ser morto, para reduzir seu sofrimento.
E outros grandes produtores de salmão como a Noruega e o Chile?
A lei que acaba de ser aprovada também freou o andamento de um acordo de cooperação entre a Argentina e a Noruega, principal produtor mundial, para a criação de salmão e o legislador Federico Sciuriano destacou que essa lei é “um sinal muito importante para o Chile”. Atualmente, o Chile está sofrendo as consequências da destruição ambiental provocada pela criação de salmão.
Além disso, de acordo com dados revelados no seminário “Salmonicultura e antibióticos: riscos à saúde humana” em 2018, eles indicam que mais de 95% do uso mundial de antibióticos na criação de salmão é feito pela indústria chilena, o que também tem graves consequências para a saúde humana.
A Argentina está fazendo história. Isso é muito importante porque uma vez instalada essa indústria é muito difícil combatê-la, mesmo quando cometem ilegalidades e desastres ambientais. Os impactos que eles deixam para trás podem ser irreversíveis.
Estefanía González – Greenpeace
A destruição dos oceanos
Além de ser muito cruel com os animais, a criação de salmão também prejudica o meio ambiente, pois essas fazendas utilizam resíduos orgânicos e químicos, como os antibióticos, que contaminam a água e alteram a composição química dos sedimentos, o que acaba matando outros peixes e seres aquáticos que vivem no mar, assim como pássaros e mamíferos que também ficam próximos aos mares e oceanos.
A criação de salmão também está ligada à devastadora pesca industrial, já que milhões de toneladas de peixes são capturados no mar para serem convertidos em farinha e óleo de peixe, que servirão para alimentar o salmão ou outros animais criados para consumo humano.
Quer saber mais sobre a indústria da pesca?
Assista ao documentário Seaspiracy.