Documentos vazados revelam crise de gestão reputacional na Ahold Delhaize


Após mais de um mês de protestos contínuos na sede da Ahold Delhaize, uma das maiores redes de supermercados do mundo, com forte presença nos EUA e na Europa, a multinacional tenta silenciar ativistas que exigem o cumprimento de sua promessa. Há mais de uma década a rede assumiu publicamente o compromisso de eliminar as gaiolas para porcas e galinhas de sua cadeia de abastecimento.
Os protestos estão ocorrendo na cidade de Zaandam, Holanda, e fazem parte da campanha da Animal Equality, organização internacional de proteção animal que também atua no Brasil.
Documentos internos vazados para a Animal Equality revelam que a empresa está promovendo reuniões internas emergenciais para tentar justificar os protestos, enquanto pressiona as autoridades na Holanda a impor restrições cada vez mais severas às manifestações.

Um e-mail interno, enviado a todos os funcionários da sede da Ahold Delhaize na cidade de Zaandam na Holanda, confirma que no dia 18 de setembro a empresa organizou uma sessão de perguntas e respostas para ouvir dúvidas dos funcionários sobre os protestos. A sessão não foi conduzida por executivos responsáveis pelo bem-estar animal, mas sim pelo vice-presidente de Clima & Meio Ambiente e por responsáveis pela segurança do local.
Desta forma, a Animal Equality pontua que isso é uma evidência clara de que a Ahold Delhaize enxerga os protestos como uma ameaça reputacional e operacional, e não como um chamado por reformas urgentes de bem-estar animal.

Restrição à liberdade de expressão, Ahold Delhaize?
Ao mesmo tempo, o Município de Zaanstad emitiu uma série de cartas restritivas, incluindo uma datada de 19 de setembro, limitando os protestos da Animal Equality, impondo limites de decibéis tão baixos quanto 45 dB, proibindo a livre circulação, cercando manifestantes longe das entradas usadas por funcionários e até mesmo restringindo o uso de apitos. Essas medidas, aplicadas a um protesto pacífico e totalmente legal segundo a lei holandesa, vêm sendo criticadas por representarem uma forma de sufocar a liberdade de expressão.
A Ahold Delhaize se apresenta como uma empresa sustentável e progressista. Mas agora, quando confrontada com a realidade dos animais sofrendo em gaiolas, recorre à repressão e tenta suprimir direitos básicos dos protetores de animais que estão protestando, disse Sharon Núñez, presidente da Animal Equality.
“Os europeus têm motivos para profunda preocupação quando uma multinacional pressiona autoridades a silenciar protestos pacíficos, em vez de enfrentar e banir a crueldade que sustenta suas cadeias de abastecimento”, continuou.
Porcas e galinhas ainda são criadas em sistemas de gaiolas que limitam seus movimentos e impedem comportamentos naturais, o que causa altos níveis de estresse e sofrimento. Reconhecendo esses impactos no bem-estar animal, diversos países já proibiram legalmente o uso de gaiolas, como a União Europeia e vários estados dos Estados Unidos. Mesmo assim, a Ahold Delhaize ainda não baniu totalmente, em suas operações nos EUA, a carne suína e os ovos provenientes desses sistemas de confinamento.
A Animal Equality promete continuar os protestos pela Europa e globalmente até que a Ahold Delhaize cumpra seus compromissos e tome uma atitude concreta para acabar com o uso de gaiolas em sua cadeia de fornecimento.

No Brasil, a Animal Equality conduz uma campanha nacional contra as empresas Bauducco e Forno de Minas, que se comprometeram a banir as gaiolas para galinhas, mas seguem sem transparência sobre o andamento desse compromisso, mesmo após o prazo estabelecido ter se esgotado. A organização também realiza protestos contra as redes de hotéis Bourbon e Blue Tree, pedindo que assumam publicamente o compromisso de não comprar ovos de galinhas em gaiolas, medida já adotada pelas maiores redes hoteleiras do país.
Só no Brasil, a Animal Equality já negociou esse compromisso com 114 empresas, fazendo com que mais de 25 milhões de galinhas deixem de ser mantidas em gaiolas minúsculas, onde cada ave tem menos espaço do que uma folha de caderno.

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