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Como foi ver o Pantanal em chamas: a visão de um investigador secreto


Meu nome é Lúcia e eu faço parte do time de investigação secreta da Animal Equality. Esse é o meu nome fictício, pois como você pode imaginar, filmar os bastidores da indústria da exploração animal é muito arriscado, pois essa é uma indústria poderosa e perigosa.

Em 2020, o Pantanal Mato-Grossense ardeu em chamas e chamou a atenção do mundo. Como integrante da equipe de investigação, fui convocada para descobrir como as queimadas no Pantanal estavam relacionadas à  pecuária. Parte do trabalho foi realizar uma pesquisa em artigos científicos e relatórios de organizações nacionais e internacionais, mas também foi necessário ir até o Pantanal e investigar de perto o que estava acontecendo com um dos biomas mais importantes do mundo.

Mesmo para uma investigadora experiente como eu, acostumada a filmar as práticas mais obscuras da indústria da exploração animal, essa viagem foi desafiadora. Eu e minha equipe dividimos os trabalhos e eu fiquei encarregada de investigar fazendas e a origem dos focos de incêndios.  Meus colegas, que não são investigadores secretos, por tanto não precisam esconder sua identidade, entrevistaram muitas pessoas que estavam na linha de frente dessa tragédia e juntos constatamos que os incêndios são provocados por fazendeiros que usam o fogo para “limpar” áreas de vegetação nativa e, depois, plantam pastagens nessas áreas para alimentar bois e vacas que serão abatidos. 

Como os animais sofrem durante e após as queimadas

No Pantanal, eu assisti a um verdadeiro filme de terror. Voluntários de todas as regiões do Brasil corriam contra o tempo para salvar a vida dos animais silvestres e também dos animais de fazendas que eram encurralados pelo fogo. Pesquisadores estimam que pelo menos 17 milhões de animais morreram queimados no Pantanal em 2020. O mais triste é pensar que outros milhões estão morrendo nesse ano de 2021.

Outro problema das queimadas é que, sem a vegetação nativa, os animais ficam sem alimentos como frutas e outros vegetais, e devido a forte seca, muitas regiões também ficam sem água. Por causa disso, assim como ocorreu em 2020, voluntários distribuem água e alimentos em locais estratégicos, mas, infelizmente, nem todos animais têm acesso a esses recursos devido a grande extensão territorial do Pantanal. Por isso, muitos animais também morrem de desidratação e inanição – estado debilitante extremo devido à falta de alimentação – após as queimadas.

Para finalizar, quero compartilhar duas histórias reais com você, sobre um boi e um tamanduá-bandeira.

Eu e mais um investigador secreto estávamos dirigindo por uma estrada que por horas só se via vegetação queimada e até então não havíamos avistado nenhum animal. Estávamos à procura de um foco de incêndio que ocorria perto daquela região. Até que eu avistei esse boi da foto abaixo vagando sozinho, aparentemente perdido. Nos aproximamos dele e ele deitou. Ele estava exausto, ofegante e com as patas queimadas.

Por alguns segundos eu fiquei em choque observando a angústia daquele animal, a dor dele me envolveu ao ponto de me paralisar. Enquanto isso, meu colega voltou correndo para o carro, pegou o celular e ligou para um grupo de resgate de animais. Eu lembrei que tínhamos alguns litros de água no carro para nosso consumo próprio. Tentamos oferecer água para ele, jogamos um pouco na boca, mas eu sabia que aquilo era quase que insignificante para a situação dele. Eu vi naqueles olhos doces e cansados que ele estava se entregando e não conseguia mais lutar.

Por outros problemas que não posso revelar aqui, sentíamos que estávamos correndo risco de vida se continuássemos lá até a chegada do resgate, então, tivemos que partir às pressas. Nunca mais tive notícias dele, não sei se ele sobreviveu, se foi abatido em um matadouro ou se está vivendo em um santuário de animais resgatados. 

A segunda história quem me contou foram os meus colegas, que  estavam entrevistando voluntários de resgates de animais,  os verdadeiros heróis na luta pela vida. Meus colegas tiveram a oportunidade de filmar o resgate desse tamanduá que estava cheio de ferimentos em decorrência do fogo.

Havia dias que pessoas chamavam o resgate dizendo que avistaram um tamanduá com dificuldades para caminhar. Rapidamente a equipe de resgate chegava ao local, mas durante vários dias eles não tiveram sucesso em encontrar o tamanduá. Até que finalmente, neste dia, eles o encontraram, prestaram os primeiros socorros no próprio local e encaminharam ele para um centro veterinário, que tinha sido montado nas margens da Transpantaneira para atender animais vítimas das queimadas. Infelizmente, dias depois ele faleceu, pois seu caso era grave. O que me conforta é que em seus últimos dias ele foi medicado, não sentia mais dor e recebeu todos os cuidados e carinho dos voluntários. O que me corrói é saber que milhões de animais agonizaram por muito tempo antes de morrer, porque não tiveram a mesma sorte de encontrar os voluntários de resgate. E isso está acontecendo novamente esse ano. Precisamos urgentemente agir para acabar com as queimadas provocadas intencionalmente pelos pecuaristas.

Talvez você pense que seja inútil refletir sobre isso, pois essa é uma indústria muito poderosa e que você não pode fazer nada. Pois é justamente o contrário! Cada pessoa que entende como esse processo de destruição constante funciona tem o poder de enfraquecê-lo. Nós lançamos uma petição pedindo ao governo brasileiro medidas para punir os responsáveis pelas queimadas das nossas florestas. Além disso, nós exigimos que sejam implementados mecanismos de monitoramento de toda a cadeia pecuária e que o governo pare de financiar fazendeiros e empresas envolvidas em atividades criminosas como o desmatamento, as queimadas e a crueldade contra os animais. Junte-se a nós assinando e compartilhando nossa petição!


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