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Coisas que a indústria não te conta: o que a carne de cavalo e as queimadas ilegais têm em comum?


Recentemente uma operação do Ministério Público Federal prendeu seis pessoas por envolvimento em um esquema que vendia carne de cavalos para hamburguerias de Caxias do Sul. O órgão estimou que cerca de 60% dos restaurantes vendiam carne clandestina sem ter conhecimento de sua origem. Ao todo, 17 restaurantes foram identificados até o momento. 

Este não é um caso isolado

Esta não é a primeira vez que casos como esse acontecem. Em setembro, uma operação da Polícia Civil no Morro da Fumaça, em Santa Catarina, prendeu cinco pessoas pelo mesmo motivo e 500 quilos de carne de cavalo foram apreendidas. Em 2019, a Polícia Militar fechou um matadouro clandestino de cavalos, no município de Limoeiro (PE). No Espírito Santo, em 2020, uma operação investigou um grupo que roubava cavalos e até animais doentes para abater e comercializar como se fosse carne bovina. O grupo também utilizava animais que foram sacrificados por terem sofrido algum acidente e transformava a carne dos animais em linguiça e embutidos. Além disso, a carne era armazenada de forma irregular e estava vencida. Um outro caso que podemos citar aconteceu em setembro deste ano, onde a fiscalização fechou um frigorífico de cavalos em Aparecida de Goiânia (GO). Os fiscais encontraram oito cavalos em situação precária, desnutridos e com sinais de maus-tratos.

O que é vendido como carne, pode não ser o que se pensa  

Notícias como essas chocam. Muitas pessoas estão preocupadas com medo de estarem comendo carne de cavalo sem saber e também por não compreenderem ao certo os riscos desse consumo para a sua saúde. 

Entretanto, hoje vamos falar sobre um problema muito mais grave do que aparece nos jornais  e que infelizmente a maior parte das pessoas desconhece: o abate clandestino.  Talvez você não saiba, mas o abate clandestino é muito mais frequente do que se pode imaginar. Estes abatedouros não são inspecionados por fiscais agropecuários, portanto não seguem qualquer norma de bem-estar animal e sanitária. Por isso, além de ser o pior cenário possível para os animais, o consumo da carne de abate clandestino pode gerar sérios problemas de saúde nos humanos, podendo inclusive levar à morte.  

Muitos sentiram repulsa ao saber que comeram carne de cavalo, porque não consideram esses animais como animais de consumo. Dessa forma, grande parte da população está indignada com este caso. Então, aproveitamos para estimular a reflexão: por que alguns animais não merecem morrer para que as pessoas consumam sua carne e a morte de animais de outras espécies não causa a mesma revolta? Por que muitas pessoas têm mais compaixão com cachorros, gatos e cavalos e não se importam da mesma maneira com vacas, galinhas e porcos?

Os cavalos de Caxias do Sul e os animais no Pantanal: ambos vítimas dos abatedouros clandestinos

A equipe de investigação da Animal Equality Brasil esteve no Pantanal Matogrossense e revelou que existe uma relação muito próxima entre a falta de rastreamento da cadeia produtiva da carne e os desastres ambientais no Pantanal e no Cerrado. Isso acontece porque não existe um instrumento que monitore os alimentos à base de proteína animal da fazenda de origem até o consumidor, para saber em quais circunstâncias os animais, sejam eles de qualquer espécie, foram criados e abatidos. 

A falta de monitoramento favorece a disseminação de abatedouros clandestinos, que conseguem vender a carne dos animais abatidos até mesmo para empresas e supermercados. 

Por isso lançamos uma petição para pedir o apoio para cobrar do governo brasileiro todas as providências necessárias para acabar com a cadeia ilegal de carne, que causa enormes prejuízos para os animais e para toda a toda sociedade. 

Atendendo a um pedido da Animal Equality Brasil, um Deputado Federal apresentou o projeto de lei PL 3867/2021 que propõe implantar um sistema de monitoramento que permita o rastreamento de todos os produtos de origem animal desde a fazenda de origem. Se aprovado, este projeto será um duro golpe para o mercado de abate ilegal de carne. 

Além do sistema de monitoramento, esse projeto também irá exigir que empresas e fazendas que solicitem empréstimos ou subsídios governamentais estejam rigorosamente dentro da lei. Isso significa que para receber dinheiro de nossos impostos estas empresas não poderão ter nenhuma relação com queimadas, desmatamentos ou abates clandestinos. 

Este é um grande passo para acabar com uma das piores crueldades da indústria. 

O abate clandestino no Brasil

A maioria das estimativas dos especialistas da indústria indicam que o abate clandestino varia de 30% a 50%, sendo os dados próximos a 50% os mais comuns. A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) não tem uma estimativa atual sobre o abate clandestino, mas no passado a associação estimou que em algumas regiões do país, devido à falta de inspeção, a carne clandestina representa 50% da carne consumida. 

Isso significa que  a cada 10 quilos de carne ou produto derivado como hambúrgueres, salsichas e linguiças (de qualquer animal) o consumidor pode consumir cinco quilos de um animal doente e que foi morto em um ambiente sujo e contaminado, sob as piores condições de sofrimento animal que alguém pode imaginar. 

Em uma entrevista para o Globo Rural, um fiscal agropecuário relatou que:  

Pelo menos 50% das cidades têm o que se chama abatedouro municipal, mas que não passa de um chiqueiro. Alguns não tem sequer ganchos e abatem o animal de qualquer jeito no próprio chão.

Diego Sampaio, fiscal agropecuário

A reportagem também deixa claro a dificuldade de mudar essa realidade, devido à ameaças de morte. Isso pode ser explicado pela Teoria do Elo, que mostra a relação entre a violência contra os animais e a violência contra pessoas, geralmente as mais vulneráveis. Os estudos da Teoria do Elo identificam a capacidade de um agressor em agir de forma violenta, seja por ações diretas ou indiretas, contra animais e pessoas.

O Abate Clandestino é um Inferno para os Animais

O maior  problema deste tipo de abate é a crueldade a que os animais são submetidos.  Os animais sofrem maus-tratos desde a chegada no estabelecimento, pois o local é impróprio para receber os animais, assim, antes da morte, alguns animais chegam a ficar dias sem alimento e água, sujeitos à exposição prolongada ao sol.  Animais machucados ou doentes ficam abandonados, sem assistência veterinária até que chegue a sua hora de morrer, alguns não resistem e acabam morrendo antes do abate propriamente dito. 

Os animais também assistem a morte cruel de seus companheiros. Os gritos, o cheiro de sangue e a visualização dos outros animais morrendo causa comportamento de extremo medo e reflete em tentativa frustrada de fuga de muitos animais.  

Não importa se o abate clandestino é de cavalo, porcos, bois ou frangos, todo abate clandestino é um risco para a segurança alimentar e é cruel com os animais. E o mais alarmante é que essa prática é muito comum no Brasil.

Carla Lettieri, Diretora Executiva da Animal Equality Brasil 

Qual o problema de consumir carne de cavalo? 

A carne de cavalo vendida no Brasil apresenta dois principais problemas para o consumo humano. O primeiro é por ser uma carne fraudada, pois o consumidor acredita estar consumindo carne bovina, quando na verdade está consumindo carne de cavalo. O segundo, e mais grave, é que esses animais foram abatidos de forma clandestina, sem fiscalização para atestar se a carne estava apta para consumo humano. 

A carne é um excelente meio de cultura bacteriana, pois possui todos os nutrientes necessários para o crescimento de bactérias e a produção de suas toxinas. A contaminação pode ocorrer em qualquer fase do processo de abate ou no processo de armazenamento. 

O abate clandestino é crime e coloca em risco a saúde do consumidor, pois existe um risco muito alto de os animais estarem contaminados com  alguma zoonose e o consumo da carne transmitir a doença para humanos. Em abatedouros legalizados, os fiscais veterinários não autorizam a venda de carne de animais que têm sinais de algumas doenças.  O médico-veterinário também é responsável por avaliar as instalações e as condições higiênico-sanitárias do local. No abate clandestino, o local apresenta péssimas condições higiênicas, sendo comum, por exemplo, a contaminação da carne por fezes e urina dos animais.  Sem a garantia de inspeção por médicos-veterinários que é realizada em locais com inspeção municipal, estadual ou federal competente,a carne também pode estar contaminada.  

Quais são os perigos do abate clandestino?

Um estudo avaliou as condições higiênico-sanitárias de abate clandestino no Brasil. Os autores concluem que no local que ocorre o abate clandestino não existe nenhum tipo de adequação para o fim a que se destina, pois geralmente não existe nenhum tipo de instalação física, a matança acontece ao ar livre e sobre o chão de terra – favorecendo assim a contaminação por patógenos. 

De acordo com pesquisadores, além da questão sanitária, o abate clandestino envolve  ainda problemas ambientais, pois na maioria dos casos é realizado em locais próximos a rios ou córregos para facilitar a captação de água. O sangue e restos de animais são despejados nessas águas que acabam sendo ingeridas por animais e até pessoas que residem nas propriedades rurais, que não possuem sistema de captação de água seguro, desencadeando assim uma fonte de contaminação em massa. 

Uma revisão de literatura publicada em 2021 informa que as carnes clandestinas podem ser contaminadas por diversos patógenos, como por exemplo a Escherichia coli entero hemorrágica, que de acordo com a quantidade de toxina presente na carne, pode causar diarreias brandas e colite hemorrágica, podendo ser letal para idosos e crianças. Algumas outras zoonoses que geram preocupação sobre a carne clandestina são a brucelose, tuberculose bovina, cisticercose e  Encefalopatia Espongiforme Bovina (mal da vaca louca). 

Um fazendeiro que vende animais para matadouros clandestinos não se preocupa em manter os animais saudáveis, pois sabe que mesmo eles estando doentes, eles serão abatidos e vendidos para consumo. Desta forma, os animais sofrem  de forma muito mais intensa não apenas no momento do abate, mas também por enfermidades que não são tratadas ao longo da sua vida.

Durante o abate, os animais não são insensibilizados, pois esses estabelecimentos não possuem equipamentos para tal prática. Assim, os animais estão conscientes, sentem dor e sofrem até o seu último suspiro. Muitos morrem com golpes na cabeça, gargantas cortadas que sangram lentamente, são espancados, tem seus membros e músculos cortados antes que de fato eles morram, enfim, uma cena terrivelmente assustadora. 

Em nossa investigação sobre o Pantanal, nós mostramos algumas cenas que revelam como esses animais são abatidos e você poderá ter uma ideia das condições sanitárias das instalações que foram filmadas por nossos investigadores.  

Tanto para humanos, quanto para os animais, os abates clandestinos representam um risco muito grave que toda sociedade deve se unir para combater.

E os abatedouros fiscalizados? 

Você deve estar se perguntando: “comer carne fiscalizada evita todos esses problemas?” A resposta é não! Pois mesmo em abatedouros fiscalizados os problemas sociais, ambientais, de saúde pública e de maus-tratos acontecem e são comuns. 

A pecuária é responsável por mais de 80% do desmatamento no Brasil, além disso é uma atividade que utiliza grandes quantidades de água e é responsável pela contaminação da água, solo e ar. A pecuária e seus subprodutos representam pelo menos 51% de todas as emissões mundiais de gases de efeito estufa.

Mesmo a carne inspecionada traz grandes riscos à saúde humana. Existe uma evidente conexão entre o alto consumo de carne e problemas de saúde, incluindo riscos aumentados de câncer colorretal, doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, intoxicação alimentar e resistência bacteriana a antibióticos. 

Os sistemas de criação de animais são intrinsecamente cruéis, pois o animal é colocado em uma posição semelhante a uma máquina produtiva. A maioria desses animais são criados em extremo confinamento e não são respeitados os laços afetivos que os animais desenvolvem, por exemplo, mães e filhotes são separados de forma abrupta poucos dias e até mesmo horas após o nascimento. As doenças, lesões e mutilações intencionais e sem controle da dor são parte do cotidiano desses animais. Eles têm seus rabos e dentes cortados sem anestesia, sofrem com doenças crônicas porque o produtor não quer gastar com medicamentos e quando a doença afeta a capacidade produtiva do animal, o produtor o “descarta”, pois como os animais são considerados produtos pela indústria, eles são sacrificados e descartados como produtos sem valor.  É importante lembrar que nenhum animal quer morrer. Os animais destinados ao abate são todos filhotes,  os frangos, por exemplo, são abatidos com apenas 42 dias de vida, porcos com 6 meses e bois com cerca de 2 anos de idade. 

Realmente, a única forma de evitar todos esses problemas e a crueldade animal é não consumir carne e outros produtos de origem animal, pois a cadeia da carne não se preocupa com questões sociais, com o meio ambiente e menos ainda com os animais que são explorados. Esta é uma cadeia que é movida única e exclusivamente pelo objetivo financeiro. 

4 passos para ajudar a acabar com os abates clandestinos e com toda forma de sofrimento animal

  1. Assine e compartilhe a nossa petição pedindo o fim da cadeia ilegal da carne! 
  2. Deixe os animais fora do seu prato, pois esse tipo de comércio só existe porque existem pessoas que pagam por esses produtos. Converse com seus familiares e amigos sobre a importância de uma transição para uma dieta a base de vegetais.
  3. Compartilhe esse conteúdo com todas as pessoas que você sabe que consomem carne, pois a saúde delas pode estar em risco. Afinal, poucas pessoas sabem que ao comprar um pedaço de carne ou consumi-lo em um restaurante, tem 50% de chance de estar consumindo uma carne contaminada, de um animal doente que sofreu muito durante a sua vida e morte. 
  4. Faça uma doação para que nossos investigadores secretos possam se infiltrar em abatedouros clandestinos e fiscalizados, para mostrar aos brasileiros o que realmente acontece nesses lugares. Hoje temos uma oportunidade incrível para dobrar o seu impacto na vida de milhares de animais: todas as doações feitas hoje serão dobradas por um generoso doador, dessa forma você doa uma quantia e nós recebemos ela em dobro. Contamos com a sua ajuda para fazer do mundo um lugar mais justo para os animais!


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